Enauta tem R$ 2 bilhões em caixa para comprar ativos
Fonte: Valor
Décio Oddone assume Enauta com objetivo de recompor portfólio e ampliar atuação da petroleira
Ex-diretor-geral da ANP, Décio Oddone vai liderar Enauta em compras de ativos
O novo presidente da Enauta, Décio Oddone, assumiu o comando da companhia com cerca de R$ 2 bilhões em caixa e promete ir às compras. A petroleira está se desfazendo de um de seus únicos dois ativos operacionais – o campo de gás natural de Manati, na Bahia – e vai buscar recompor sua carteira. Até então focada em águas profundas, a ideia é ampliar os horizontes e olhar “sem restrições” para outras oportunidades de negócios, como os campos maduros à venda pela Petrobras.
“Pode ser em terra, águas rasas, águas profundas… Tínhamos um foco maior em águas profundas no passado que estamos ampliando”, afirmou Oddone ao Valor.
Vindo de um período de quarentena obrigatória, após renunciar à diretoria-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Oddone assumiu a presidência da Enauta há um mês. Ele sucedeu Lincoln Guardado, que liderou a empresa por onze anos, no período em que a petroleira, então Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP), passou a atuar em águas profundas e abriu capital. Ela foi a última petroleira a fazer uma operação do tipo no país, em 2011, numa transação que levantou R$ 1,5 bilhão.
A Enauta é controlada pela Queiroz Galvão (63%). O fundo de investimentos Quantum possui 7% da companhia e os outros 30% do capital são negociados livremente na bolsa (free float).
Até então, a empresa vinha se mantendo distante do programa de venda de campos maduros da Petrobras. Oddone, porém, conta que a estratégia da companhia de se concentrar em águas profundas foi concebida numa outra conjuntura de mercado, quando não havia a quantidade de ativos de produção disponíveis para venda como hoje. Vale lembrar que a estatal tem a intenção de sair integralmente da operação em terra e águas rasas e, mais recentemente, sinalizou que venderá grandes campos maduros do pós-sal, como Albacora, na Bacia de Campos.
“Esse momento que estamos vivendo no Brasil gera oportunidades para que a Enauta passe a pensar em fazer coisas que não fazia no passado”, disse.
A situação financeira, segundo Oddone, permite que a petroleira venha a comprar mais de um ativo – e algum campo de “porte um pouco maior”. A intenção da companhia é ser operadora, mas entrar nos negócios com parceiros. Ele afirmou ainda que a Enauta não tem uma meta de produção a ser alcançada. “Nosso objetivo não é volume, é rentabilidade”.
O executivo conta que a empresa não descarta se alavancar para fazer aquisições. A decisão da companhia, que possui dívida total de R$ 230 milhões, dependerá da análise de “caso a caso das oportunidades”. A petroleira tem a receber a última parcela (US$ 144 milhões) da venda de sua fatia de 10% em Caracará, no pré-sal, para a Equinor; e R$ 560 milhões pela venda de seus 45% em Manati, para a Gas Bridge – negócio ainda pendente de conclusão. Esses valores ajudarão a compor o caixa disponível para aquisições, da ordem de R$ 2 bilhões, já descontados os compromissos de investimentos.
Com a saída de Manati, em fase final de vida útil, a Enauta ficará com um ativo operacional: uma fatia de 50% de Atlanta, no pós-sal da Bacia de Santos. A dependência de uma única fonte de receita preocupa. Em agosto, logo após o anúncio da alienação, o UBS, por exemplo, rebaixou a recomendação de compra das ações da empresa para neutra e reduziu o preço-alvo do papel de R$ 13 para R$ 12. Os papéis fecharam ontem a R$ 10,36.
Oddone afirma que a Enauta almeja ser uma petroleira independente “mais relevante”. A empresa costuma figurar no ranking dos dez maiores produtores de petróleo do país e é a segunda maior produtora brasileira de capital privado, atrás da PetroRio.
O executivo destaca que a prioridade é comprar ativos operacionais, mas que, no futuro, a Enauta poderá diversificar os negócios. Hoje ela só atua em exploração e produção de óleo e gás. “Mais à frente vamos estudar, sim, a diversificação na cadeia, mas não é a prioridade agora”, disse. “[O tema da transição energética] é algo que qualquer empresa de energia que pense no longo prazo tem que considerar”, completou.
Ele disse, ainda, que a companhia está fazendo uma revisão geral do projeto de produção definitiva de Atlanta, para torná-lo mais resistente a um cenário de preços do petróleo mais baixos. Só depois desse trabalho ela contratará a plataforma que vai operar no ativo.
Em função de falhas técnicas, a produção de Atlanta caiu 44%, de 25 mil barris/dia no segundo trimestre para 14 mil barris/dia no terceiro. Oddone afirma que a produção deve ser normalizada em breve. Segundo a ANP, o campo tem produzido 20 mil barris/dia.